Algum tempo atrás o meu pai contou para mim uma anedota sobre a ditadura militar brasileira e que tempos depois descobri que a mesma anedota era repetida para os mais diferentes regimes autoritários.
A anedota era simples e contava a história de um pai e um filho. O pai, temendo que o filho fosse preso pela ditadura, decide mandá-lo para o exílio em um país estrangeiro. O rapaz, temendo que não pudesse ter notícias do seu país e de seu povo devido a censura, pede para o pai então lhe mandar constantemente cartas. Porém, para driblar a censura, iriam usar um artifício simples, porém engenhoso: se fosse verdade o que estava escrito, seria escrito com caneta verde. Se fosse mentira, no entanto, seria escrito com caneta vermelha.
O filho então consegue sair do Brasil e no exterior se ajeita e passa a viver sua vida. No entanto, passam-se dias, semanas, meses e nada de seu pai lhe escrever. Assustado com o que poderia teria ter acontecido, o rapaz passa a se preocupar cada vez mais até que um belo dia ele recebe uma carta vinda do seu pai. No entanto, surpreendentemente a carta estava toda escrita com caneta verde! “Talvez as coisas por lá tenham melhorado” – pensou o filho, ao começar a ler a carta.
E na carta, para sua surpresa, só há boas notícias. Seu pai elogiava o novo regime, que se mostrava justo e democrático. Mais do que isso, ele conseguia suprir os anseios do povo e gerar um grande desenvolvimento tecnológico. Os seus governantes mostravam-se homens sérios e dignos de respeito. O Brasil nunca fora mais feliz do que naqueles belos dias em que a democracia, o progresso e o respeito ao povo se faziam sentir para todos os cidadãos. Mas havia apenas um problema, segundo o pai. Um problema ínfimo e que não comprometia as glórias do regime: as canetas vermelhas estavam em falta.
A lição da anedota foi apreendida da forma mais interessante pela mídia corporativa brasileira: escondam as canetas vermelhas. Essa capacidade de diluir o real do que é falso, o ficcional do que é concreto é a nova arma dos órgãos corporativos das comunicações brasileiras.
Que me perdoem meus amigos jornalistas e publicitários, mas chegamos a um ponto em que suas profissões passam a ser desprezadas exatamente pela total incapacidade de vocês mesmo conseguirem definir o real e o ficcional. Sem essa divisão, a comunicação não existe. Sem essa divisão, o que existe é apenas um romance, uma carta escrita em caneta verde que não se direciona mais ao objeto que quer se comunicar.
As revistas semanais e os jornais diários realizam conluios mirabolantes, passam a discutir exatamente COMO enganar. Não se trata mais de um maniqueísmo burro de esquerda – como tantos que já foram criados. Trata-se agora de não dar nenhum subsídio para que se possa diferenciar realidade de ficção para podermos naturalizar isso. Trata-se de escrever uma opinião não enquanto opinião, mas como realidade. Trata-se de fazer um panfleto e revesti-lo de imparcialidade, de justiça, de verdade.
Lamento muito que publicações dessa mídia corporativa ainda sejam levadas a sério, que as pessoas percam a distinção entre o ficcional e o real, que percam de vista que as matérias são todas escritas em caneta verde. Che Guevara não foi um assassino maltrapilho. O MST não vai coletivizar as terras brasileiras com o dinheiro do narcotráfico internacional. As universidades não são formadoras de esquerdistas. A Aracruz não vai trazer nenhum progresso. O etanol não é a salvação do planeta. Chávez não é um ditador. E a lista pode continuar...
Mas não continuarei também por querer exatamente alertar meus leitores que vivemos em tempos onde há uma enorme escassez de canetas vermelhas, que possam demarcar certos discursos para dizerem “isso é mentira”. Canetas que possam afirmar categoricamente “isso não é verdade, meu filho”. Não precisam discursar em tons de caneta verde... Basta apenas apontar que há uma distinção entre a verdade e a mentira, entre realidade e ficção. Basta apenas botar a caneta vermelha para funcionar.
A anedota era simples e contava a história de um pai e um filho. O pai, temendo que o filho fosse preso pela ditadura, decide mandá-lo para o exílio em um país estrangeiro. O rapaz, temendo que não pudesse ter notícias do seu país e de seu povo devido a censura, pede para o pai então lhe mandar constantemente cartas. Porém, para driblar a censura, iriam usar um artifício simples, porém engenhoso: se fosse verdade o que estava escrito, seria escrito com caneta verde. Se fosse mentira, no entanto, seria escrito com caneta vermelha.
O filho então consegue sair do Brasil e no exterior se ajeita e passa a viver sua vida. No entanto, passam-se dias, semanas, meses e nada de seu pai lhe escrever. Assustado com o que poderia teria ter acontecido, o rapaz passa a se preocupar cada vez mais até que um belo dia ele recebe uma carta vinda do seu pai. No entanto, surpreendentemente a carta estava toda escrita com caneta verde! “Talvez as coisas por lá tenham melhorado” – pensou o filho, ao começar a ler a carta.
E na carta, para sua surpresa, só há boas notícias. Seu pai elogiava o novo regime, que se mostrava justo e democrático. Mais do que isso, ele conseguia suprir os anseios do povo e gerar um grande desenvolvimento tecnológico. Os seus governantes mostravam-se homens sérios e dignos de respeito. O Brasil nunca fora mais feliz do que naqueles belos dias em que a democracia, o progresso e o respeito ao povo se faziam sentir para todos os cidadãos. Mas havia apenas um problema, segundo o pai. Um problema ínfimo e que não comprometia as glórias do regime: as canetas vermelhas estavam em falta.
A lição da anedota foi apreendida da forma mais interessante pela mídia corporativa brasileira: escondam as canetas vermelhas. Essa capacidade de diluir o real do que é falso, o ficcional do que é concreto é a nova arma dos órgãos corporativos das comunicações brasileiras.
Que me perdoem meus amigos jornalistas e publicitários, mas chegamos a um ponto em que suas profissões passam a ser desprezadas exatamente pela total incapacidade de vocês mesmo conseguirem definir o real e o ficcional. Sem essa divisão, a comunicação não existe. Sem essa divisão, o que existe é apenas um romance, uma carta escrita em caneta verde que não se direciona mais ao objeto que quer se comunicar.
As revistas semanais e os jornais diários realizam conluios mirabolantes, passam a discutir exatamente COMO enganar. Não se trata mais de um maniqueísmo burro de esquerda – como tantos que já foram criados. Trata-se agora de não dar nenhum subsídio para que se possa diferenciar realidade de ficção para podermos naturalizar isso. Trata-se de escrever uma opinião não enquanto opinião, mas como realidade. Trata-se de fazer um panfleto e revesti-lo de imparcialidade, de justiça, de verdade.
Lamento muito que publicações dessa mídia corporativa ainda sejam levadas a sério, que as pessoas percam a distinção entre o ficcional e o real, que percam de vista que as matérias são todas escritas em caneta verde. Che Guevara não foi um assassino maltrapilho. O MST não vai coletivizar as terras brasileiras com o dinheiro do narcotráfico internacional. As universidades não são formadoras de esquerdistas. A Aracruz não vai trazer nenhum progresso. O etanol não é a salvação do planeta. Chávez não é um ditador. E a lista pode continuar...
Mas não continuarei também por querer exatamente alertar meus leitores que vivemos em tempos onde há uma enorme escassez de canetas vermelhas, que possam demarcar certos discursos para dizerem “isso é mentira”. Canetas que possam afirmar categoricamente “isso não é verdade, meu filho”. Não precisam discursar em tons de caneta verde... Basta apenas apontar que há uma distinção entre a verdade e a mentira, entre realidade e ficção. Basta apenas botar a caneta vermelha para funcionar.
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